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Longevidade 50+ #2

Cuida de mim!


Quem aqui não conhece alguém que parou sua vida para se dedicar a cuidar de um familiar com Alzheimer? Esse alguém é quase sempre uma “cuidadora”.


Segundo a OMS, cerca de 90% dos cuidadores são familiares, amigos ou vizinhos e somente 10% são os chamados “cuidadores formais”, ou seja, os que são pagos para fazer esse trabalho. Entre os cuidadores familiares, as mulheres representam 81,6% e a idade média varia entre 50 e 65 anos.

 

E quando reflito sobre isso, impossível não parar para falar sobre uma grande amiga que conheço há anos: Míriam Morata, 62 anos, arquiteta.

 

Miriam sempre foi uma profissional brilhante, com projetos diferenciados e estudos na área de construção sustentável, até o dia em que sua vida parou, ou melhor, o Alzheimer na família parou a vida dela. Durante 10 anos ela foi a cuidadora do pai e depois mãe. Sim, ambos tiveram a doença, e Míriam teve que abrir mão de tudo, da sua vida profissional, da sua vida pessoal, da convivência social, para cuidar dos pais:  o senhor Rubens e a dona Nena.


E durante todo esse tempo, nunca faltou amor, nunca faltou carinho, nem cuidado.

Mas e depois que eles se foram, quem cuidou de Míriam?

Como fica o cuidador? Já pararam para pensar nisso?


O cuidador fica emocionalmente destruído, fisicamente exausto. E como colocar a vida de volta nos trilhos?


O que ela aprendeu com tudo isso foi relatado em três livros escritos por Míriam: “Alzheimer – Diário do Esquecimento”; “Alzheimer – Recolhendo os Pedaços”; e “Alzheimer - Assombro e Cura do Cuidador”. Para quem se interessar pelo assunto, recomendo a leitura, escrita com emoção e dor.

 

Assim como ela, muitas pessoas passam por esse drama. E com o envelhecimento da população, ainda veremos muitas histórias semelhantes.


Por isso, devemos pensar, refletir e tentar nos preparar da melhor para a longevidade e também para o envelhecimento, que pode vir de forma suave, com sabedoria e leveza, ou pode vir de forma mais dura, que nos imponha limitações não desejadas. Porque não são apenas as pessoas que têm a doença que precisam ser cuidadas, mas o cuidador precisa de cuidado, porque ele tem que recolher os cacos da vida e tentar se reconstruir. E nem sempre ele consegue.

 

Com o envelhecimento da população os casos de demência também estão crescendo. De acordo com Relatório Nacional sobre a Demência (Projeto ReNaDe) estima-se que há 2,71 milhões de pessoas vivendo com algum tipo de demência no Brasil. No entanto é alto o sub diagnóstico. Há apenas 20% dos casos devidamente diagnosticados.


Todo ano, em todo o mundo, são diagnosticados 7,7 milhões de novos casos de demência, ou 1 a cada 3 segundos, o número chega a 50 milhões de pessoas.

Segundo estimativas da Alzheimer’s Disease International, os números poderão chegar a 74,7 milhões em 2030 e 131,5 milhões em 2050, devido ao envelhecimento da população. De acordo com a OMS, em 2019 foi gasto no mundo US$ 1,3 trilhão para atender a pessoas com demência.

 

E para isso, ainda não temos leis, nem políticas púbicas que sejam focadas nessas pessoas. Essa conta vai chegar.

 

***As opiniões e informações apresentadas pelo colunista não referem, necessariamente, o posicionamento do Portal Futuro Livre e são de responsabilidade de seu autor.


Sobre o colunista:


Elaine Camilo é jornalista com 34 anos de experiência. Trabalhou por 27 anos na TV Globo como produtora executiva e coordenadora de reportagens em todos os telejornais. Por 14 anos produziu reportagens para o Fantástico. Tem habilidade em comunicação, visão e coordenação de equipes, produção de conteúdo audiovisual, vídeos institucionais para empresas, podcast, consultoria e media-training. Curiosa por natureza, tem se aprofundado nas questões sobre longevidade e etarismo.


Instagram: @elaine_camilo

LinkedIn: elainecamilo

Facebook: elaine.camilo



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