Crescer em São Paulo é uma aventura a ser compreendida. Para entender mais sobre este sentimento, o Portal Futuro Livre conversou com Anderson Cruz, especialista em Direito Civil e Patrimonial, membro da Comissão Estadual do Meio Ambiente da OAB SP e ativista social e ambiental.
"A minha relação com São Paulo é ampla. Não é apenas o fato de nascer na cidade e ter minhas relações aqui. Aqui eu tenho meus vínculos."
Anderson conta que começou a entender o que era comunidade quando tinha nove anos de idade, conversando por curiosidade com uma vizinha, mãe de amigos da época.
"Porém ela e o pai dela eram militantes de um partido político. Aí eu comecei a entender algumas coisas sobre a cidade. Primeiro passo: na minha região era a canalização do córrego do bairro, onde era um esgoto a céu aberto. Depois meu irmão foi atropelado em frente a minha casa. Ficou internado, quebrou a perna e se machucou. Essa vizinha e eu começamos um movimento para colocar uma lombada da rua de casa e sinalização para segurança. Aí fizemos um movimento interessante."
Ele, que é ex-morador do bairro da Penha da França, na Zona Leste, segue seu relato: "A região onde eu nasci sempre teve donos... sejam eles políticos ou líderes comunitários que agiam em nome destes políticos. E toda essa movimentação social começou a trazer alguns adversários. Começamos a cobrar melhorias no bairro. Mas os ditos representantes não deixam a coisa andar até hoje. Mesmo passado mais de 30 anos."
"Isso também motivou para entender o mundo onde eu estava inserido, por exemplo, na escola. Antes da Universidade, sempre estudei na escola pública. Aliás, só consegui concluir o ensino superior por ser bolsista. Talvez, se houvesse mais oportunidades de estudo e desenvolvimento quando eu era criança, aos 4 anos de idade, eu já era alfabetizado, sabia ler e escrever perfeitamente, para muitas coisas , fui autodidata. Aos cinco, seis, sete anos, eu gostava de ler livros de história, geografia e língua portuguesa. Sem contar que eu era bom em matemática."
Anderson conta que entre seus onze e doze anos, percebeu o quanto que o ensino em São Paulo era limitado.
"Na escola pública onde eu estudei não tinha quadra, professores faltavam, já havia bullying e gente pobre. Nesta época, meus três irmãos e eu já estudávamos na escola pública. Era um sufoco com o passar do tempo as dificuldades de sobrevivência. Até mais pela minha mãe, ela fez o que pode para criar os filhos."
O ativista relata que chegou, inclusive, a fazer boicote contra professores ruins e fazer, nas palavras dele, uma greve de alunos: "Nisto, a minha família nunca me apoiou e não cobrei nada deles. Aliás, eu levava cada bronca por essa característica."
"Em cima disso, para tentar melhorar as situações, a mãe dos meus amigos e eu, ficávamos indo na Antiga Administração Regional da Penha, que não resolvia nada. Até que começamos a juntar poucas pessoas, é verdade, pra começar a ir a Câmara Municipal. Aí eu já tinha por volta de uns 15 anos."
Após isso, Anderson começou a estudar a cidade de São Paulo, e tinha um sonho: ser Prefeito.
"Vi que isso era mais difícil que eu imaginava. Não era tão fácil. Neste momento, eu já tinha 16 para 17 anos aproximadamente, tirei meu título de eleitor! Foi ótimo! Eu me senti importante."
Jovem, Anderson viu uma oportunidade de ouro: "Ao mesmo tempo, havia um caderno dentro da Folha de São Paulo, chamado FolhaTeen. Como sempre gostei de ler, não me lembro exatamente quando foi, lembro que haveria um encontro para tratar de assuntos sobre o funcionamento da escola, organização de alunos e a matéria a época, também do jornal, falava do protagonismo juvenil."
"Descobri o telefone de um dos organizadores. Ele morava em Cidade Tiradentes. Sai eu da Penha da França até Cidade Tiradentes. Peguei uns três ônibus para ir e outros três pra voltar. Participei de uma reunião pequena, na casa de um deles. E o Marcelo, só lembro do primeiro nome, disse assim: Agora tem um grupo que pensa como a gente, que quer a escola pública melhor. Sempre se reúne na Câmara municipal, sempre no segundo sábado de cada mês. Vamos lá. Será bom. São pais, alunos e professores. Tenha certeza que fará diferença."
Em meados de março e abril de 1996, Anderson conheceu o Fórum Municipal de Educação, grupo da sociedade civil que tratava de assuntos da escola, mas sem a organização sindical. "Conheci grandes pessoas e que até hoje são meus amigos.
Aprendi sobre política, história da cidade de São Paulo, do Estado de São Paulo. Como se organizar na comunidade", relata o ativista.
Com lugar de fala sobre os problemas da cidade, Anderson relata com suas palavras sobre como foi São Paulo convivendo com a Covid-19. Confira frases marcantes e ditas, com exclusividade, ao Portal Futuro Livre:
"São Paulo parar! Bem difícil. A cidade de São Paulo ficou bem aquém da pulsação econômica como é a sua imagem conhecida. O comércio fechou. As atividades essenciais continuaram a funcionar: postos de gasolina, transporte público, farmácias, serviços de saúde, supermercado."
"As ruas ficaram mais vazias, não havia energia pulsante e as pessoas não pararam. Os encontros online aumentaram em razão ao distanciamento social, reuniões foram feitas, negócios realizados, as famílias se falavam. Era a forma possível."
"As pessoas tiveram que se adaptar a tal situação. Apesar de que outras, nem tanto."
"Ainda havia aqueles que não acreditavam nos perigos da Covid-19. Não acreditam até hoje no poder preventivo na vacina e no uso de máscaras sanitárias. Alguns escaparam, tantos outros não."
"As organizações sociais foram instadas a agir. Num dever cívico de ajudar o próximo. Não se sabia porquanto tempo a pandemia duraria. Formalmente, a Organização Mundial de Saúde ainda não declarou seu fim."
"A solidariedade humana não parou. Por isso que São Paulo não parou e nunca vai parar!"
A solidariedade, de fato, não parou na capital. Igrejas, por exemplo, fizeram doações de alimentos ao longo de toda a pandemia. Somente na periferia paulistana, por exemplo, foram distribuídas 31 toneladas de alimentos in natura, somente em março de 2020. A doação foi através do programa social Unisocial, da Igreja Universal do Reino de Deus.
A Igreja Renascer em Cristo entregou milhares de cestas básicas, além de ter feito ações especiais como entrega de panetones no final do ano de 2020.
As instituições religiosas também ajudaram em 2021. A Igreja Católica, em todo o mundo, também se mobilizou para ajudar, e em São Paulo não foi diferente. Os católicos doaram alimentos, além de álcool em gel e máscaras.