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Foto do escritorLucas Rogerio

Ronald Sclavi, em entrevista ao Portal Futuro Livre: "Imparcialidade é um mito!"

Na semana de lançamento do Portal Futuro Livre, preparamos uma série de reportagens e entrevistas especiais. Para começar, uma conversa com o jornalista Ronald Sclavi.





O QUE É O JORNALISMO?

“É o exercício da mediação.” Jornalismo é a profissão que tem como missão mediar as relações entre a sociedade e o poder. Por poder, entenda-se poder econômico, político, corporativo, enfim, todas as suas manifestações. Jornalistas fazem esse meio de campo, contando histórias e narrando o cotidiano.


POR SER O “MEDIADIOR”, O PAPEL DO JORNALISTA, NO CASO, É SER IMPARCIAL, ELE CONSEGUE OU TENDE A CAIR NA PARCIALIDADE?

“Imparcialidade é um mito.” Um mediador não pode estar comprometido com quem quer que seja. Mas ele tem lado sim! É o lado mais fraco: das pessoas, da sociedade. Ele não é juiz. Esse papel é da Justiça não nosso.

O JORNALISMO É DE “ESQUERDA” OU ISSO É MENTIRA?

“Isso é uma questão de ponto de vista.” O jornalismo é um ofício, um fazer. Ele tem alguns princípios e deve ser conduzido por valores. Na minha opinião, esses princípios e valores estão mais presentes hoje em um pensamento humanista, mais comum entre as pessoas de esquerda. Mas não foi sempre assim. O jornal O Estado de S. Paulo, por exemplo, foi fundado há mais de 100 anos sob princípios liberais e libertários. E é um jornal mais à direita.

O QUE MUDOU NOS ÚLTIMOS ANOS NO MODO DE FAZER JORNALISMO?

Só tudo. Infelizmente, após a chegada da internet, o jornalismo se perdeu. Os critérios de apuração da informação, de checagem de todos os lados da notícia, foram abandonados e perdemos algo fundamental na nossa relação com o público: a credibilidade. Acho que com essa onda de fake news, aos poucos, estamos recuperando isso, mostrando ao público que sabemos fazer um jornalismo correto. Fizemos como reação o que deveria ser nosso cotidiano. “Acredito que estamos no caminho de recuperar a credibilidade. Mas não será fácil. Ainda estamos apanhando mais do que batendo.”

COMO O LEITOR PODE ESCOLHER CORRETAMENTE O QUE LER, ASSISTIR, NO CASO TELESPECTADOR, ENFIM, O QUE ACOMPANHAR QUANDO SE TRATA DE JORNAIS? TEM ALGUM MÉTODO DE ESCOLHA?

O leitor deve procurar canais produzidos por jornalistas profissionais. Sites, jornais, rádios, emissoras de TV, enfim, meios feitos com critérios jornalísticos, que mostrem com clareza como obteve determinada informação, que demonstrem terem consultado as fontes. E não apenas canais de opinião e comentário. Os grandes jornais e os jornais locais de credibilidade são assim. Nos jornais locais, o jornalista responsável é alguém da comunidade. “Se a comunidade não conhece quem faz o jornal local, não é um jornal local de verdade. É manipulação.” Se você está investindo em um jornalismo feito para as pessoas, precisa mostrar a cara e estar à disposição delas. Você tem lado: o lado delas!

SOBRE RONALD SCLAVI:

É jornalista, professor universitário, pesquisador e consultor de comunicação. Já atuou como repórter (Jovem Pan, Bandeirantes, Trianon, Folha da Tarde, Folha de S. Paulo, Shopping News, Forbes e Adega), assessor de comunicação e executivo de comunicação corporativa. Foi diretor de Comunicação do Instituto Inhotim (Brumadinho-MG). Atualmente, é professor na Universidade Paulista, pesquisador da obra do jornalista Vladimir Herzog e responsável pela coordenação pedagógica do Módulo Descobrir São Paulo - Descobrir-se repórter do Projeto Repórter do Futuro.

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