Foto: Marreteiros: Além Dos Trilhos
Após mais de três anos de intensa investigação, com minuciosas pesquisas, com exclusividade, o Portal Futuro Livre inicia uma série jornalística que irá apontar a rotina, os planos, metas e as questões mais adversas envolvendo os vendedores ambulantes que, diariamente, estão nos trens e metrôs de São Paulo. A observação investigativa, de uma rotina, até então, antes de uma pandemia global, simples e bem executada.
Com a chegada do Novo Coronavírus no Brasil em fevereiro de 2020, e a quarentena que foi, deveras necessária, mas que, outrora (e até hoje) assola a vida econômica do país, os vendedores ambulantes tiveram de se adaptar, afinal de contas, eles não são essenciais, mas o dinheiro, muitas vezes custoso de adquirir, todos os dias, sustenta famílias, paga médicos e alimenta os famintos.
Foto: Portal Futuro Livre/ Metrô de SP, vagão está no trilho, prestes a parar em uma das estações.
Numa escalada de informações, muitas vezes desencontradas, você vai acompanhar a conclusão de uma jornada pelos vagões de trem, de metrô, que passam pelos diversos trilhos que cortam e ajudam no equilíbrio, ainda que desenfreado, do trânsito paulista, e que vai muito além. Conheça a história dos Marreteiros: Além Dos Trilhos.
Fim de janeiro de 2018, inicia-se uma investigação que tinha tudo para ser simples. À começar:
1. Quem são os ''marreteiros''?
Para responder esta pergunta, uma observação em três horários diferentes de vendas: 07h, 12h e 18h. Dois horários de pico, um não; este, no caso, 12h.
Às 12 horas, se observa uma pequena turma de vendedores, distribuídos em quatro vertentes diferentes que assolam a necessidade do potencial comprador.
O comprador, geralmente, deste horário, são jovens, que estão transitando entre faculdade e casa/trabalho ou que estão saindo em duplas, trios, quartetos e afins. O doce não é, por incrível que pareça, o consumo mais forte deste grupo, mas os salgadinhos (a expressa maioria de marca desconhecida do grande público) são vendidos como ''água''.
- A água é vendida em todos os horários, mas não é o produto mais adquirido, o que coloca em cheque o famoso pensamento de que algo vendido com muita frequência pode ser considerado uma venda igual a da água.
''Muita gente tem desconfiança de comprar água no trem, a gente [potenciais compradores] não sabe a procedência.'' - usuário de trem, que não iremos identificar.
A procedência é algo a ser discutida, afinal de contas, de onde surgem os produtos vendidos ''livremente'' nos vagões? Naquela primeira semana de investigação, descobrimos as estações consideradas mais importantes para abastecimento do comércio dos ''marreteiros''. Engana-se quem pensa que é o Bairro do Brás.
Para explicar, façamos uma alusão: você vai à um mercado, em dia de promoção, realizar a compra do mês, e durante as semanas posteriores, você abastece com o que vai acabando e é de necessidade atual, para isso existe, entre outras razões, os famosos ''mercadinhos''. E para os marreteiros não é diferente.
Foto: Portal Futuro Livre/ Estação de Perus, aglomeração na pandemia
A estação Perus, da Linha 7-RUBI da CPTM, era, até então, considerada uma estação-chave. Bem posicionada, e antiga, não exige uma quantidade grande de seguranças, e saindo da estação, sentido Francisco Morato/Jundiaí, se depara com um calçadão, como é chamado e conhecido pelos peruenses, e neste calçadão, encontra-se lojas que ajudam nos pequenos abastecimentos. Outra estação desta mesma linha, que funciona como estação-chave, é a Lapa. Mas a Lapa, no caso, conta-se com um plano estratégico, já que (mesmo pequena geograficamente), tem grandes números de guardas.