Quando eu era criança, uma vez por mês meus pais iam ao mercado fazer a chamada “compra do mês”. Geralmente isso acontecia logo após o pagamento do salário. E lá íamos nós, era um evento. Naquele tempo, os supermercados não abriam aos domingos, os horários eram mais restritos. Ou seja, o mercado estava sempre cheio. As filas nos caixas eram imensas.
Mas me lembro de operadores de caixas atenciosos, empacotadores caprichosos, que nunca misturavam no mesmo saco de papel, “um produto de limpeza” com “um produto de geladeira” para não “pegar cheiro”, dizia minha mãe. Sim, importante dizer que naquela época, as compras eram acomodadas em “papel pardo”.
Os tempos passaram, o mundo mudou, o jeito de fazer as compras também. Hoje podemos usar os aplicativos que trazem os produtos até a porta da nossa casa.
Mas num dia desses, precisei ir a um grande hipermercado, que recentemente mudou de nome, para comprar algumas coisinhas de última hora. Passei no caixa de autoatendimento, tive algumas dúvidas e alguns funcionários, jovens e um pouco mal-humorados, rispidamente tentaram me ajudar, com muita má vontade.
Cada pergunta que eu fazia a eles, eles respondiam com uma cara carrancuda, de “poucos amigos”, como se não estivessem lá para fazer o trabalho deles, que é atender ao público de forma educada e respeitosa.
Pois bem, fiz minhas compras, as levei para o carro e me dei conta que eu tinha esquecido de validar o cartão do estacionamento. Subi novamente e procurei o guichê para validar. Lá, fui atendida gentilmente por dona Tereza, de uns 68 anos aproximadamente. Um sorriso no rosto, batom discreto e uma blusa branca simples e aprumada. Com muita educação, ela pegou a notinha da compra, conferiu e validou o cartão.
Ainda me perguntou quanto tempo mais eu iria ficar no mercado, porque após validar, eu teria apenas 20 minutos para deixar o local. Ela se preocupou com isso, se por acaso eu iria parar em algum quiosque, resolver mais alguma pendência antes de sair com o carro. Tudo isso para que o cartão não perdesse a validade.
Como gosto de uma prosa, puxei assunto e rapidamente eu soube que ela tem 3 filhos, 2 netos e é viúva. Uma das filhas e os dois netinhos moram com ela. Ela disse que trabalha para poder ocupar a cabeça, se manter atualizada e contribuir com as despesas da casa. A conversa foi curta, mas o jeito doce e simpático de dona Tereza me fez sair dali reflexiva sobre o mercado de trabalho para pessoas com mais de 50 anos.
E aí eu pergunto? A força de trabalho envelhece mesmo? Será?
O que podemos observar é que muitas das pessoas que já passaram dos 50 anos, estão com boa saúde e no melhor momento da sua produção intelectual. Muitos estão se atualizando, estão aprendendo as novas tecnologias, voltaram a estudar.
Mas por que as empresas não absorvem essa força de trabalho? Por que não há contratações de pessoas com essa idade?
Hoje, 26% da população brasileira tem mais de 50 anos, mas, até 2040, 57% da força de trabalho terá mais de 45 anos. Será que o Brasil está preparado para esse futuro?
A resposta é não. Embora mais brasileiros estejam envelhecendo, o etarismo, discriminação por idade, continua forte. E isso não acontece apenas no Brasil, a ONU estima que uma em cada duas pessoas sofrem preconceito por idade ao redor do mundo.
Uma pesquisa da Ernst & Young / Maturi entrevistou representantes de 191 empresas de 13 setores da economia e 78% dos entrevistados disseram que as empresas não possuem políticas específicas de combate à discriminação etária em seus processos seletivos.
O mercado e as empresa não tem ações práticas de combate ao etarismo.
E aí eu pergunto a você, caro leitor: você prefere ser atendido pela simpática e competente dona Tereza ou por um jovem mal-humorado que não está com muita vontade de te ajudar?
Fica a dica: não ao etarismo.
Elaine Camilo