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Foto do escritorLucas Rogerio

Invisíveis

Hoje, 26 de agosto de 2021, por volta das 18h, presenciei uma notícia acontecendo, bem na minha frente, mas não quis ser jornalista, só quis ser humano. Sim, para mim o trabalho do jornalismo é humano, mas o jornalista é técnico. A reflexão que quero trazer começa com a cena que eu não vi:


Duas crianças, uma por volta dos sete anos, menino, franzino, e uma garotinha, de quatro anos de idade, mais ou menos. Aparentemente, dois irmãos, que estavam atravessando uma movimentada avenida. Eles estavam sozinhos. Eu não vi estas crianças, pelo menos não vi até que um acidente, na minha frente acontecesse.





Uma moto vinha em alta velocidade, não estava errada, a avenida não tem sinalização ou algo do tipo, e o rapaz da moto estava de capacete. Enquanto as crianças, bem pequenas, sem olhar para os lados, atravessaram a avenida de um lado para o outro (ao menos tentaram, pois este era o objetivo), a moto, no português claro, pegou a menina com tudo. Trêmulo, eu do outro lado, vi tudo.


O rapaz da moto parou, desceu, estava ali socorrendo a menina, e as pessoas começavam a aparecer, de repente. De longe, naqueles poucos segundos, ouvi a consciente mulher que ali estava dizer, mais ou menos assim: corre menino, chama um adulto da sua casa.


E saía aquele pequeno garotinho, magrinho, correndo pela calçada, e algumas pessoas, intencionalmente, começavam a chamar as outras, e dessa forma aquela aglomeração ficava cada vez maior.


Eu, com uma sacola reciclável, pesada, já que cada sacolinha plástica agora é paga, quase que paralisei, mas andei alguns metros, e então cheguei no posto de saúde.


O posto de saúde não é um pronto-socorro, ok! A moça que atendeu-me disse, em palavras parecidas: não podemos tocar na criança, mas vou ver alguém para dar um pulo lá [local do acidente, poucos metros adiante].

Momentos antes, a menininha, mole no chão, imóvel. Alguém a levantou e ela não se mexia, então o corpinho dela continuava ali, no chão. Se ela estava viva ou morta: realmente não sei. Não era o jornalista ali, na outra calçada observando. Era alguém preocupado. E no posto, ninguém aparecia, até que a moça disse que iria lá averiguar a situação.


Pronto! Profissionais da saúde no local. E cada vez mais pessoas. Se quiseram bater no "irresponsável do motociclista"? Não sei, ele parou para socorrer. Se algum adulto da casa das crianças apareceu? Não sei. Se a garota está viva? Não sei.


Sei que 35% dos acidentes de trânsito envolvendo crianças são fatais! É o fim da vida para os pequenos. Sei que uma criança morre a cada quatro minutos no trânsito, no mundo.





Não está na hora de pensar nestes simples números? Sair das estatísticas e ir para a "vida real"? Me pergunto: por que aquelas crianças estavam sozinhas, numa avenida movimentada, em pleno horário de pico, num dia de semana? Afinal de contas, de quem é a culpa?


É dos responsáveis que deixaram as crianças sozinhas? É do motociclista que andava numa avenida regulamentada, mas sem sinalização? É de quem? É do Governo? De Deus? Do Prefeito? Da Nasa?


E aí? Eu não sei te responder, não fiz meu trabalho de jornalista, não fui técnico. Tentei ser humano! E me pergunto também: de quem é a culpa?


Os dados do Observatório Nacional da Segurança Viária, exibidos neste artigo, são chocantes. E só uma pergunta: de quem é a culpa?


Agora todos viram a cena de duas crianças sozinhas. Mas para o quê estão direcionados nossos olhos? E repito, mais uma vez: de quem é a culpa?


Imagens: Pixabay

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