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Inalcançáveis | Num contexto de violência

Um relacionamento abusivo, é aquele que uma pessoa seja homem ou mulher, subjuga o outro, detém do poder sobre o outro, manipula e afasta a pessoa dos outros diminuindo sua autoestima e autonomia. Podendo ser físico, psicológico, patrimonial, sexual. Esclarece a psicóloga Viviane Tavares Pessoa. E é sobre relacionamento abusivo o contexto desta reportagem especial.


LUCIANA E SUA HISTÓRIA


Luciana do Rocio Mallon é redatora e professora de dança, e é direta ao dizer que não esperava que um homem de 61 anos se comportasse de maneira abusiva. "Eu esperava maturidade de um homem de 61 anos!" É com essa citação que iremos abordar a história dela:


O abusador de Luciana era um antigo colega, que queria ter a mesma por perto, no caso, queria que Luciana fosse morar com ele. "As vezes, ele me telefonava mais de sete vezes por dia. Ameaçou postar falsos nudes meus.". Luciana e seu abusador, que aqui chamaremos de Théo - nome fictício para preservação de identidade, se conhecem desde 1997, e ela afirma que não esperava atitudes abusivas dele, pois na faculdade, ele aparentava ser gentil.



Imagem: Portal Futuro Livre


"Conheci ele na faculdade, mas conversávamos pouco. Depois ele mudou para o Rio de Janeiro, então nos falávamos pelo Orkut, mas era muito pouco. Há três anos, ele se mudou para uma praia no Piauí. Em 2019, ele veio com um papo estranho, mostrou prints. Fiquei com medo que ele enviasse aqueles falsos nudes para minha família."

Luciana é assexual, e Théo criticava a opção dela, de maneira preconceituosa.


"Eu via que tinha algo errado! Mas eu não queria acreditar que era abusivo. Ele queria que eu fosse submissa 24 horas por dia, mas eu cuido da minha mãe."


Especialistas ouvidos pelo Portal Futuro Livre, que já presenciaram em suas carreiras casos de abusos, dizem que os sentimentos mais comuns em atendimentos às vítimas, que em sua maioria são mulheres, são caracterizados como medo, angústia, e, inclusive, fica uma marca que é difícil de se cicatrizar. Em relato, as vítimas chegam totalmente desestabilizadas, como se estivessem num labirinto e não conseguem sair. Vítimas de abusos e abusadores, em geral, chegam para atendimentos em total pânico. Não é raro dizer que elas (principalmente vítimas) estão em estágio de depressão.


Luciana bloqueou seu agressor nas redes sociais em julho, e ele a perseguiu através do e-mail. O agressor, em mensagens que o Portal Futuro Livre obteve, fala sobre um boletim de ocorrência contra a vítima Luciana, que diz não saber do que ele pode acusá-la.


O Portal Futuro Livre, no objetivo de mostrar e evidenciar fatos, aborda o relacionamento abusivo em duas etapas, na visão de duas mulheres. Na história das personagens reais, se objetiva o fato da vulnerabilidade.


Luciana, por exemplo, foi perseguida, como pode ser mostrado abaixo, além de outros registros no Instagram do Portal Futuro Livre.



Imagem: prints que evidenciam o relacionamento abusivo


ÁGATA E SUA HISTÓRIA


Antes mesmo de saber o que era uma relação abusiva, Ágata - nome fictício, para preservação de identidade, já vivia uma. Sem culpar o pai, e alegando que eram 'outros tempos', Ágata conta que ele era machista, e a criou de maneira rígida, brigava muito e, até mesmo, batia nela. A explicação do passado de Ágata é fundamental para entender as duas situações que ela se coloca: abusada e abusiva.


"Me casei aos 19 anos só para sair de casa e ter a minha. Isto me custou caro!", é com este relato que a moça inicia a história de um frustrado e abusivo relacionamento. Violento, agressivo, ciumento, controlador e possessivo: o pai do primogênito dela.



Imagem: Pixabay


"Embora soubesse que aquela relação era abusiva, eu não conseguia sair dela; eu tinha medo dele me matar, de fazer algo com minha família. Ele me ameaçava muito. [...] Ele me batia, ameaçava, era horrível.", relata Ágata, que ficou com ele por quase dez anos, sofrendo violência física e psicológica.


Ela conta que conseguiu tomar coragem de enfrentar tudo, nas palavras dela. Ágata procurou a polícia, e disposta a encarar até a última consequência, ela diz que se livrou de seu agressor. "[...] Não foi fácil, não foi rápido, mas foi importante."


Normalmente a pessoa abusiva é um narcisista, e a vítima pode ser um narcisista co-dependente (o submisso, o cuidador), ou uma pessoa com laços fragilizados e de inversão de valores, onde ela acredita que este excesso de cuidado e vigilância, e até mesmo a agressão, é amor. Podem haver também casos em que a vítima pode sim, ter o transtorno de personalidade narcisista, quando há exemplos de casais em que ambos praticam os abusos, diz Viviane Tavares Pessoa, em conversa com o Portal Futuro Livre.


Passado alguns anos, a história da, então abusada, continua. Ela se casou, pela segunda vez, e este também era um relacionamento abusivo, mas não era como o primeiro. "Ele não era violento, mas me controlava, me fazia acreditar que sem ele eu não era ninguém. Eu engravidei e ele me abandonou para ficar com outra mulher. Eu estava grávida, na rua e dinheiro. Ele tinha se cansado de mim. Enquanto eu estava grávida, ele se aproveitada do meu sentimento, me fazendo promessas de que voltaria pra mim. Ele ficava comigo de segunda à sexta, mas de noite e aos finais de semana, ele ficava com outra. Quando tomei coragem de não querer mais ele, botei um ponto final naquilo, nós brigamos, discutimos, e ele me bateu. Eu estava sendo agredida, de novo, após anos de um casamento violento e abusivo."



Imagem: Pixabay


Ágata relembra também que o irmão dela, há pelo menos dois anos, a agrediu, por conta de um surto causado pelo vício em drogas. Ágata diz que ficou com a sensação de ser uma 'presa fácil', e o resultado de todas as situações evidenciadas até o momento, é que ela se considera abusiva.


Questionada sobre o que faz uma pessoa se tornar abusiva, a psicóloga especialista em terapia cognitiva comportamental Adriana Severine esclarece que é difícil definir, mas pode ser que a pessoa tenha sido vítima de abuso, e ela reproduz este comportamento, ou também sendo vítima de abuso (ou visto alguém da família ser vítima), ela acaba escolhendo o papel de abusador e não de vítima, porque são os papéis que ela conhece; as vezes, o abusador tem uma violência interna que não é controlada, e não consegue resolver, então tem uma necessidade de controle muito grande, muitas vezes, de saber o paradeiro do companheiro (a), o que está fazendo. É estranho dizer que o abusador tem falta de amor próprio e autoestima, mas é, já que não tem certeza que alguém seja capaz de amá-lo.


"Hoje me vejo como uma pessoa controladora e abusiva também, porque na tentativa de parecer forte, grito muito com meus filhos e com meu atual marido. Muitas vezes uso palavras e tons de voz igualmente agressivos. É uma autodefesa, mas não é legal."

Ela, que denunciou todos os seus abusadores às autoridades, hoje, denuncia, na conversa com o Portal Futuro Livre, que é abusiva. Em seu relato, ela segue dizendo que depois do que aconteceu com seu primeiro marido, ela sentiu que não poderia deixar coisas assim acontecerem com ela.


Ágata descobriu (ou podemos dizer que aceitou) ser abusiva numa sessão de terapia, recentemente.



Imagem: Pixabay


Questionada como é ser uma pessoa abusiva, ela é direta em suas palavras:


"Eu me sinto mal! Me sinto contraditória, afinal, apesar de não agredir ninguém fisicamente, a forma de falar é um tipo de violência. Então, estou sendo aquela pessoa que eu defendia que ninguém poderia ser."


Confuso para ela, Ágata conta que são necessárias muitas sessões de terapia para, simplesmente, seguir em frente. Ela tem medo de agredir o marido ou os filhos, e então faz atendimento terapêutico para controlar a si mesma. "É autodefesa, mas não é bom."


Ágata é questionada se acredita que uma pessoa abusiva pode conviver bem em sociedade, caso faça terapia. Enfática nas palavras, ela acredita no ser humano, e acha que com ajuda psiquiátrica, médica, religiosa, trabalho e/ou amigos, dá para controlar.



Imagem: Pixabay


Ágata reage atualmente de maneira abusiva, justamente, para se proteger, como algo quase que inconsciente da parte dela. Nem sempre ela foi a pessoa que comete abusos, sua história de vida traduz que ela foi abusada, violentada. "Nunca na vida eu defendo o abuso! Relacionamento abusivo é tudo aquilo que extrapola o comum, o aceitável. O controle excessivo do outro, chantagem, ameaça, gritos, intimidação, violência física, excesso de amor, de controle, de posse, querer que o outro mude e seja quem você quer."


Sobre como percebeu que era abusiva, em relação a história que a fez buscar ajuda, Ágata diz que foi numa briga em casa, e seu marido falou sobre o jeito abusivo dela, e o filho mais velho dela, também numa briga, acabou por citar o tema; consequência: ela procurou ajuda e hoje faz tratamento.


Ágata diz ser uma mulher abusiva em desconstrução, alegando não ter nascido assim, e está lutando todos os dias para não ser mais abusiva, em nada, e com ninguém.


Adriana Severine explica que a forma de tratar o abuso (físico ou psicólogo) é ajudar a entender o porquê a vítima entrou numa relação abusiva, é de fundamental importância a pessoa que passou por uma relação abusiva fazer terapia, pois ela desenvolve a tendência de repetir relações, ou seja, ela só troca de parceiro (a), mas continua sendo vítima de abuso. É como se um atraísse o outro: o abusador percebe que você é uma vítima, e ele se aproxima de você já pensando na relação, não de forma consciente, mas de forma inconsciente.


O Portal Futuro Livre realizou uma pesquisa com dados especiais relacionados ao tema desta reportagem, e estes dados são parte do Conteúdo Exclusivo que estará disponível no nosso Instagram amanhã.

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