A derrota de Guilherme Boulos nas eleições para prefeito de São Paulo levantou questões importantes sobre o cenário político atual, especialmente quanto aos desafios enfrentados por candidatos de esquerda para conquistar eleitores de perfil mais conservador e moderado. A vitória de Ricardo Nunes destaca alguns dos fatores que explicam por que São Paulo ainda resiste a um perfil de liderança como o de Boulos.
A figura de Jair Bolsonaro ainda exerce uma influência significativa sobre parte do eleitorado paulistano mais conservador, mesmo sem apoio explícito a todos os candidatos de direita. Para esses eleitores, Bolsonaro representa uma postura alinhada com valores tradicionais, e esse fator pesou em uma disputa tão polarizada. Ao se mobilizarem para apoiar candidatos com quem se identificam, eles acabam fortalecendo o lado oposto a Boulos.
Apesar de ter realizado uma campanha forte e de buscar atrair eleitores de diferentes perfis, Boulos ainda enfrenta um índice considerável de rejeição. Para uma parcela do eleitorado paulistano, ele está associado a movimentos como o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), o que gera certo receio entre eleitores que prezam pela estabilidade e pela segurança da propriedade privada. Esse estigma torna mais difícil sua aceitação por eleitores indecisos ou moderados.
Historicamente, São Paulo tende a escolher candidatos de centro-direita e direita em eleições municipais. A vitória de Nunes, portanto, segue esse perfil, evidenciando uma cidade onde a retórica conservadora e o pragmatismo em questões de segurança e economia encontram eco, especialmente entre eleitores de classe média e com perfil empreendedor.
Embora Boulos tenha buscado um tom mais conciliador, ainda é visto por alguns como um candidato com propostas consideradas ousadas para o contexto de São Paulo. Existe certo receio de que ele priorizasse pautas sociais em detrimento de uma gestão focada na estabilidade econômica e na segurança pública, enquanto Nunes, representando a continuidade, atraiu aqueles que preferem mudanças graduais e previsíveis.
A segurança pública, um dos temas centrais para os eleitores paulistanos, também foi um ponto de diferença. Nunes reforçou sua imagem de postura mais rígida no combate ao crime, enquanto Boulos, associado a pautas sociais, não conquistou completamente essa confiança. Para uma cidade como São Paulo, lidar com a segurança de forma firme é essencial para muitos eleitores, e essa percepção pesou na decisão final.
A derrota de Boulos reflete, então, uma resistência a perfis progressistas em São Paulo. A influência bolsonarista, o perfil mais conservador da cidade e o histórico de Boulos em movimentos sociais contribuíram para um cenário adverso. Contudo, isso não significa que seu projeto político esteja fadado ao fracasso. Para vencer em São Paulo, ele e os partidos de esquerda precisarão construir uma imagem que atraia setores mais amplos da população, dialogando com a diversidade de perfis do eleitorado paulistano.
Esse resultado traz lições valiosas, indicando a necessidade de estratégias de aproximação que possam abrir novas possibilidades para a esquerda na cidade.