Em um mundo onde a política frequentemente se mistura com marketing e popularidade, governos impopulares são raros, mas, em certos momentos, essenciais. Governar sem o peso constante da aprovação pública pode ser libertador para implementar mudanças profundas e permitidas, mas é também uma tarefa que exige habilidade política, coragem e um compromisso inabalável com os interesses do país. A impopularidade, nesse sentido, torna-se uma ferramenta de governo que poucos sabem ou fornecem para usar.
A impopularidade pode surgir de diversas formas: decisões duras, crises econômicas, escândalos políticos ou contextos de instabilidade.
Michel Temer, ex-presidente do Brasil, é um exemplo recente. Assumiu o poder em 2016 após o impeachment de Dilma Rousseff, em um momento de profunda divisão política e crise econômica.
Sua gestão foi marcada por reformas estruturais, como a trabalhista, e tentativa de avanço com a reforma da Previdência, temas que historicamente enfrentam forte resistência popular.
Sem aspirar à reeleição e consciente de sua baixa aprovação, Temer agiu como um “governante de transição”. Sua impopularidade, embora limitada em termos de legitimidade popular, tornou-o menos suscetível à pressão de grupos de interesse ou ao medo de perder apoio nas urnas. Essa liberdade é algo que governos mais populares, muitas vezes focados em manter a aprovação, não podem desfrutar plenamente.
A impopularidade, quando bem administrada, pode ser uma ferramenta poderosa em momentos de crise ou transformação nacional. Ela permite que o governante:
Implemente Reformas Estruturais: Decisões como reformas previdenciárias, tributárias ou trabalhistas são politicamente custosas, mas cruciais para o futuro do país. A impopularidade elimina o “cálculo eleitoral” que muitas vezes bloqueia essas mudanças.
Enfrente Grupos de Pressão: Governos impopulares têm maior margem para desafiar interesses corporativos, sindicais ou setores privilegiados.
Foque no Longo Prazo: Medidas que trazem benefícios futuros, mas custos imediatos, são mais simples de adotar em contextos onde o governante não está preocupado com popularidade.
Por outro lado, a impopularidade pode ser uma via de mão dupla. Governos impopulares enfrentam desafios importantes:
Legitimidade Fragilizada: Sem apoio popular, os governantes têm dificuldades em aprovar projetos no Legislativo e podem ser alvo de manobras políticas de opositores.
Protestos e Instabilidade: Políticas impopulares podem gerar revoltas sociais, desgastando ainda mais a governabilidade.
Risco de Autoritarismo: A falta de respaldo público pode levar a decisões que desconsideram a pluralidade democrática.
A habilidade de transformar a impopularidade em uma ferramenta eficaz exige um perfil específico. Não é suficiente ser impopular; é preciso ser estratégico, ético e técnico orientado. A impopularidade só pode ser uma ferramenta de governo para aqueles que possuem:
Clareza de Propósito: Saber exatamente quais reformas ou mudanças são possíveis e por quê.
Comunicação Eficaz: Mesmo impopular, o governante deve manter a transparência e implementar suas ações para evitar alienar a população.
Resiliência: A resistência às críticas e a capacidade de seguir em frente à pressão são indispensáveis.
Governos impopulares, em um sistema democrático, não são necessariamente um problema — e podem até ser uma solução em momentos de crise ou transição. Contudo, transformar a impopularidade em uma ferramenta eficaz é um desafio reservado aos poucos líderes, aqueles que fornecem equilibrar decisões difíceis com a manutenção das bases democráticas.
A impopularidade, portanto, não é o oposto do sucesso político. Em algumas situações, é a marca de um governo que ousa tomar decisões que os populares não têm coragem de fazer. Mas esse poder vem com grandes responsabilidades — e exige líderes à altura do desafio.